domingo, 16 de janeiro de 2011

A primeira internação...

     Oieee...

     Depois de uns dias longe (de novo), cá estou aqui de volta.

     Bem hoje resolvi escrever sobre minha primeira internação, a primeira grande crise.
     Enfim...


     Assim que eu estava me sentindo preso, preso em mim mesmo, realmente algemado, me sentia impotente diante do mundo, diante de mim, diante de todos os meus problemas, diante de tudo.
      Não que a vida não fizesse mais sentido e sim me via sem a famosa "luz no fim do tunel...", me via sem perspectiva, sem rumo, sem solução.
      Então decidi que era hora de eu acabar de uma vez por todas com todo o meu sofrimento, foi então que resolvi que teria que acabar com a minha própria vida, simples, prático e objetivo ???
      Não, não era tão simples assim, envolvia "N" coisas "N" fatores, primeiro como realmente me matar sem sentir dor (se é que isso é possível), depois como me despedir de quem eu amo, na época apenas minha mãe.
      Entrei na internet e comecei a pesquisar formas de suicídio indolor, sim fiz isso, e por incrível que pareça existem vários sites falando sobre isso. Lí que se eu ligasse o carro na garagem fechada e tomasse um sonífero eu ia dormir e nunca mais acordar, que se eu deixasse o gás da casa ligado também seria uma morte rápida e indolor, mas essas duas eu não poderia fazer existia mais duas pessoas em casa. Minha mãe e meu padrasto, então o que eu poderia fazer ? Háááá veneno de rato !!! Boa... NÃO !!! Definitivamente não, ao pesquisar descobri que não mata ser humano só provoca dor, e uma série de complicações.
       Quanto mais eu pesquisava, mais minha mente viajava, mais eu tinha idéias exdrúxulas e mais eu queria e estava certo de que a morte era a única saída para o meu problema. Então fui até a sala, eu morava em um sobrado na época, e fiquei um pouco com a minha mãe... olhei profundamente nos olhos dela e silenciosamente me despedi (confesso que quando olhei nos olhos dela eu fiquei com um pouco de dúvida se realmente eu deveria morrer), fui ver meus papagaios e me despedi deles também, andei pela casa toda para olhá-la pela última vez, e lentamente fui até a laje que dava acesso ao telhado da casa (a casa tinha 3 andares) subi no telhado e de repente olhei prá baixo e ví que se eu pulasse não ia me acontecer nada, só ia quebrar uma perna, sei lá.
       Fiquei totalmente frustrado, e entrei em desespero, pensei e agora o que vou fazer ?
       Fui até a cozinha peguei uma faca, a maior que tinha, e pensei vou me esfaquear até morrer, mas minha razão falou alto comigo... "Se eu fizer isso não vou aguentar ir até o final" ... passei a faca com toda a força na parede que ficou com uma marca enorme, nessa hora eu comecei a dar facadas em meu corpo todo, mas eu não conseguia enfiar a faca em mim, então me "arranhei" profundamente, vários cortes pelo corpo, depois olhei para o espelho e ele simplesmente ria da minha cara, pois isso não ia me matar, eu precisava morrer, então tive uma idéia, tomei todos os remédios que tinham na casa, simplesmente todos, misturei tudo, tomei tudo de uma só vez, fui até meu quarto, entrei dentro do guarda roupa enrolei um cachecol grosso em meu rosto cobrindo meu nariz e minha boca. Eu já estava um pouco tonto e fraco, pois os remédios estavam começando a fazer efeito, tomei muitos, muitos mesmo, prá dormir, relaxante muscular, antibióticos, remédios para dor de cabeça, antiinflamatórios, enfim muito remédio, eu me "escondi" dentro do guarda roupa e estava enrolado com o cachecol, logo eu dormiria e me asfixiaria, afinal estava com o nariz e bocas tampados, respirando com dificuldade e dentro de um lugar apertado e fechado... Fato seriam meus últimos momentos.
       O mais louco é que eu estava me sentindo sereno, parecia que meus problemas estavam indo embora, de repente comecei a ouvir meu padrasto gritando pela casa me procurando (fudeu, pensei) agora vão me achar e me tirar daqui. Pronto !!! Não deu outra, meu padrasto abriu o guarda-roupa e me viu lá, ele me olhou com um desespero que não consigo tirar de dentro de mim, ele chamou minha mãe que veio correndo e ao me ver assim ela simplesmente ficou chocada, não acreditando no que estava vendo, ela falou:
       - Filho para de palhaçada, saí daí o que você quer ? Se matar ?
       E começou a rir, olhou pro meu padrasto e começou a rir.
       Ela tentou me tirar de lá e eu não saia por nada, uma força descomunal tomou conta de mim, me agarrei alí e não existiria ninguém capaz de me tirar dali. De repente quando ví meu pai estava lá, o mais louco é que nem sei quem chamou, como ele foi parar lá, ele começou a conversar comigo e por incrível que pareça, ele me convenceu a sair dalí. Justamente a pessoa que eu mais odiava nesse mundo, foi a pessoa que me convenceu a sair, ele começou a me perguntar o que estava acontecendo, e eu disse que eu o odiava, que me odiava, que sempre me senti um lixo, deslocado no mundo, sempre tive uma visão deturbada de mim, eu era magro, bonito e me achava feio e gordo, contei que um dia quando voltei prá casa chorando eu havia sido estuprado, sim isso mesmo fui estuprado com 15 anos, se prá uma mulher é ruim, imagina para um homem, contei que os amigos dele abusavam de mim quando eu tinha 11 anos, nas viagens que fazíamos e ele nunca percebeu, eles me ameaçavam, falavam que iam matar meu pai, me matar, e faziam eu pegar neles, esfregavam seus pintos nojentos em mim, diziam que eu era gostosinho, um monte de filho da puta casado e com filhos, eu não conseguia perdoar meu pai, que ele nunca tinha visto isso, eles me sentavam no colo deles e ficavam esfregando seus paus duros em mim, resolvi me abrir contei tudo, tudo, que eu estava todo endividado, eu sempre fui extremamente consumista (isso também é uma auto destruição e um sintoma de um borderline) comprava tudo, eu não podia ter dinheiro na carteira que eu tinha que gastar, contei que eu era bulímico desde os 12 anos e ninguém nunca percebeu, eu simplesmente vomitava tudo o que eu comia, morria de medo de engordar, contei que muitas vezes desejei a morte dele, que eu o odiava por ter traído minha mãe tantas vezes e contando tudo isso descobri que ele era um dos principais culpados de todos os meus problemas.
     E falei que eu ia acabar com a minha vida, ele pediu minhas contas, disse que ia pagar todas, que eu não precisava me preocupar com isso. Na hora eu senti mais ódio ainda, então ele acha que todo meu problema eram as dívidas ??? Ele não ouviuuuu ??? Não ouviu que fui estuprado ? Abusado ? Esqueci de dizer, também fui espancado quando me estupraram. E o medo e a vergonha de contar isso prá alguém, a culpa me corroendo, o ódio de mim por não ter tido coragem de denunciar, a raiva de mim de ser fraco e não ter conseguido me defender, não ter conseguido evitar, ai... (estou chorando agora).
       Mas vou continuar...
       De repente me olhei no espelho e comecei a unhar meu rosto inteiro, eu praticamente me desfigurei, na frente deles todos, nessa hora até meu irmão já estava lá, eram 4 contra 1 e eles não conseguiram me segurar, eu via a agonia e o desespero deles, parecia que eu estava possído e de repente comecei a chorar, chorei chorei como nunca tinha conseguido chorar antes, então me acalmei, fiquei tranquilo, sossegado, sereno, como se nada tivesse acontecido, só sentia a dor dos cortes e das arranhões, minha mãe ficou desesperada e me levou ao primeiro hospital que achou e contou o que havia acontecido... Simplesmente me ferrei, fizeram os curativos, lavagem estomacal e mandaram meus pais me levarem na emergência psiquiátrica, então cheguei em um hospital, todo dolorido, com a garganta doendo da lavagem, com o corpo doente e frustrado por não ter conseguido me matar.
       A médica começou a conversar comigo e fui contando minha vida, meus traumas, meu passado sofrido, minha relação de amor e ódio comigo e com o mundo, meus altos e baixos constantes, minha mãe chorava a cada relato que eu dava, ela não conseguia acreditar que passei por tudo aquilo e ela não viu, não notou que tinha algo errado comigo.
     
       (Se algum pai ou uma mãe estiver lendo este artigo, eu peço, prestem total atenção nos seus filhos e não achem que é frescura, ou manhã, muitas vezes eles estão querendo falar algo e por vocês não darem a devida atenção eles se fecham, como eu fiz. Ou simplesmente, por vocês não darem abertura, não terem diálogo constante eles se fecham também. Minha mãe sempre conversou muito comigo, mas quando eu tentava falar sobre como me achava feio e gordo, o que eu não era, ela achava que eu queria receber elogio, e não era isso, era assim que eu me sentia. Mal sabia ela que eu vomitava tudo e muitas vezes nem comia, jogava a comida na privada)  
      
        A médica me ouviu e enquanto eu contava eu tinha várias reações, hora ficava eufórico, hora ficava extremamente deprimido, chorava compulsivamente e depois ficava bem, então a assistente disse:
       - Doutora uma caso típico de uma pessoa Bipolar...
       A médica retrucou:
       - Não esse é um caso sem dúvida nenhuma do que chamamos de transtorno de personalidade borderline, e ele terá que ficar internado aqui para observação por pelo menos 48 horas, afinal ele tentou suicídio e a chance de ele tentar novamente é grande.
       Minha mãe ficou sem reação, eu fiquei desesperado !!! Como assim ??? Eu vou ficar no hospício ??? Como pode ser ??? Eu só estou sofrendo, não estou louco. Então eu comecei desesperado a emplorar para não me internarem.
       A médica disse que não poderia deixar eu sair da clínica e que eu seria observado o tempo todo e realmente fui, eu não podia nem ir ao banheiro sozinho, definitivamente eu estava preso.
        A primeira noite foi a pior, eles me deram um remédio que me deixou dopado, mas eu não conseguia dormir, tinha um homem no meu quarto que roncava desesperadamente e tinha umm menino acho que ele tinha uns 16 anos que me olhava fixo, ele era esquizofrênico.
        Quando amanheceu eu não quis sair do quarto de jeito nenhum, não quis ir comer, só queria ficar deitado, e passei meu primeiro dia assim, eles me deram muito, mas muito remédio, era difícil até ir ao banheiro, eu não conseguia andar, no dia seguinte foram umas pessoas no meu quarto, estavam curioso, o que um rapaz bonito a aparentemente são estaria fazendo ali. Isso mesmo aparentemente, os borderlines não tem nada que diz que eles são assim, nem um olhar diferente, absolutamente nada, geralmente são pessoas que se cuidam, sabem falar bem, pessoas normais, mas que por dentro sofrem e as vezes não aguentam e não existem tantos borderlines assim, é uma doença digamos que difícil de achar, e um monte de gente ia no meu quarto e eu estava com muita raiva de mim, de estar naquele lugar. Até que chegou um senhor e me disse, eu entendo vc, entendo esses cortes, vc nçao quer morrer, você quer tirar a dor que não passa, então você transfere essa dor para outro lugar...
        Fiquei intrigado, e comecei a conversar com esse senhor, ele disse que sempre foi auto destrutivo, mas nunca teve coragem de se machucar, mesmo tendo vontade, ele disse que me apreciava, eu pensei como me apreciava, me invejava ? E ele começou a me contar a história dele, nisso comecei a me interessar pela história de todos, e comecei a conversar com as pessoas, afinal eu tinha descoberto que teria que ficar 15 dias internado, então eu teria que me enturmar, fui conhecendo várias pessoas, vários probleas e de repente eu comecei a não me sentir tão deslocado no mundo, afinal haviam mais pessoas como eu, não com o mesmo problema, mas com as mesmas angústias, os mesmos medos, enfim...
       Então aceitei a participar das terapias de grupo e isso me ajudou muito, pois lá eu podia ser eu, totalmente, sem "máscaras" sem necessidade de fingir estar feliz quando eu não estava, de fingir-me interessado quando não tinha interesse, afinal o mundo é assim, estamos sempre "fingindo" para conseguirmos viver em sociedade e isso me destruia, e lá não, lá se eu quisesse gritar eu gritava que ninguém ia achar nada de mim. Iam me respeitar e pronto, então ví que louca é a sociedade, é quem acha que é são, pois estes estão o tempo todo fingindo ser algo que não são.
      Resumindo minha primeira internação foi ótima, pois conheci várias pessoas, vários casos e me senti pela primeira vez compreendido.

       Depois escrevo mais, estou cansado, mas consegui resumir minha primeira internação, ainda tem mais 4...

       E ainda vou contar como consegui me reerguer do fundo do poço.

        E nunca se esqueça, o primeiro passo prá cura é a aceitação da doença.

        Beijos,

         Fênix.
 
  
  
     

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entre a razão e a emoção...

     Sanidade X Insanidade

     Bem que dizem, um borderline vive no limite...
  
     Como é louco isso, hoje acordei bem, acordei feliz, tomei meu café, enfim tudo ia bem. Liguei para uma amiga que não conversava com ela há tempos... conversamos, rimos, enfim, o dia parecia que ia ser especial !!! E estava sendo... De repente uma tristeza bateu no meu peito, uma dor dentro de mim, não sei explicar, achei melhor tentar dormir, fiz isso por... 20 minutos ¬¬    e rapidamente acordei. Acho que nem cheguei a dormir, simplesmente fiquei deitado na cama, inerte, estático, pensando na vida.
      Então uma "coisa" me tirou da cama, fui assistir seriado (sou viciado em séries e filmes, me ajudam a "fugir" dos problemas) e uma inquietude começou a tomar conta de mim. Fazia muito tempo que eu não me machucava, mas uma dor começou a crescer no meu estômago, corroer minhas entranhas, fui beber um copo d´água e quando ví comecei a procurar desesperado por uma faca, eu precisava me cortar, precisava tirar aquela dor de dentro de mim, pelo menos mudar o foco dessa dor...
      O problema é que minha mãe escondeu todas as facas e objetos cortantes que tinham na casa (isso é ótimo por um lado, pois eu poderia ter me machucado feio), mas não adiantou muito, fui na unha mesmo, me arranhei até sair sangue, eu sei que é loucura, mas enquanto eu sentia meu corpo arder e sangrar, minha dor de dentro ia passando, foi aliviando e quando eu ví, eu estava bem. Estava calmo, sereno, como se nada tivesse acontecido.
       Acho que se talvez eu tivesse alguém para conversar nesse momento de fúria eu não teria feito isso, mas infelizmente as pessoas estão sempre OCUPADAS com suas vidas e esquecem que existem outras pessoas no mundo precisando de ajuda, pessoas que fazem parte diretamente do mundo delas.
       Eu entrei no msn, tentei conversar com minha amiga, disse que eu estava deprê, que estava mal, daí ela disse: "- Ai, não vem com baixo astral, vc estava tão bem... vamos falar de outra coisa..." E simplesmente me ignorou, disse que precisava sair e assim o fez, talvez se ela tivesse me ouvido um pouco eu desabafaria e sairia essa angústia de dentro de mim, e eu não estaria todo arranhado agora e ardendo.
        Aprendi muito (nas minhas internações, nas terapias, enfim) que desabafar é o melhor remédio, e posso dizer com toda a certeza que é. Eu não me machucava há tempos, só que o que fazer quando não conseguimos desabafar ??? Não temos prá quem desabafar ???
       Hoje eu tou me sentindo um lixo, feio, descuidado, a pior pessoa do mundo :'(
       E do nada me deu uma coisa de que eu deveria ver meu blog, se alguém viu alguma vez, leu alguma vez o que eu escrevi e para a minha alegria uma pessoa tinha lido, e postou um comentário pedindo para eu continuar a escrever e isso me fez bem, sei lá me senti vivo de novo e útil, eu passei um ano sem crise alguma, trabalhei, voltei à minha vida normal e de repente comecei a cair de novo. Infelizmente essa doença é assim, mas quando mais pesquiso sobre ela e principalmente me permito me conhecer e me aceitar, eu sinto que vou melhorando !!!
        Engraçado, quando comecei a escrever eu estava mal e agora estou me sentindo muito bem, e espero que depois dessa postagem eu consiga postar coisas melhores, mais felizes, rs.
        Não estou escrevendo para contar só os meus problemas e sim c0mo convivi, como caí, como levantei e como estou lutando todos os dias contra essa doença que me corrói, me coloca entre a razão e a emoção todos os momentos... Pois tem momentos que sei que a coisa é da minha cabeça, mas meu coração não sente isso, daí entra todo o conflito.
        Me sinto lúcido e louco ao mesmo tempo, pois às vezes tenho pensamentos que nem eu acredito que seria capaz de ter, faço coisas que muitas vezes achei que fosse incapaz de fazer, e dou grandes "saltos" por cima dos problemas, como se a "montanha" se transformasse em uma "pedrinha".
        Agora estou bem, mais aliviado e calmo, vou tomar um banho, me arrumar, ficar bonito prá mim e esquecer que esse dia aconteceu, vou retomar meu equilíbrio, ou pelo menos tentar, afinal viver em "8 ou 80" o tempo todo não é fácil.

         Beijinhos e até já !!!

        P.S.: Esse post é dedicado à vc Letícia que fez com que eu voltasse a escrever.