quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Um dia eu vou "voar"...

Hoje eu estava em conflito, novidade... rs.
Saí de casa para espairecer e de repente me lembrei que nunca mais tinha postado aqui, apesar que pelo que tenho notado, ninguém nunca leu meu blog... mas esse diário é mais prá mim mesmo, prá mim desabafar e quando comecei a escrever lembrei de uma música que eu amo, que fala sobre esperança, sobre sair dos problemas, tudo de forma implícita claro. Não sei se alguém daqui já assistiu Moulin Rouge... a personagem Satine que canta esta música e ela que será minha mensagem de hoje, pois depois de muito tumulto hoje, depois de passar o dia sozinho, me sentindo deprimido, sem comer, de repente do nada fiquei bem... não sei se isso é bom ou ruim, só seu que faz parte da minha doença, mudanças constantes de humor, enfim...

I follow the night
Can't stand the light
When will I begin
To live again?

One day I'll fly away
Leave all this to yesterday
What more could your Love do for me?
When will Love be through with me?

Why live life from dream to dream?
And dread the day when dreaming ends

One day I'll fly away
Leave all this to yesterday
Why live life from dream to dream?
And dread the day when dreaming ends

One day I'll fly away
Fly, fly away

sábado, 25 de dezembro de 2010

Agonia pós Natal...

     Oi, estou estranho hoje, nem sei ao certo dizer pq... eu estava feliz e de repente........... ai meu Deus, estou péssimo, quero parar de escrever, me perdoem...

      Estou com idéias suicidas, ai senhor me protege, quero me cortar....

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eterno conflito...

Altos e baixos são comuns em um borderline...

Ontem eu estava todo empolgado, feliz, aliás hás dois minutos eu estava assim e de repente, ploft... perdi o tesão, nem sei se devo continuar com o blog, afinal acho que ninguém lê, apesar que está me fazendo bem escrever aqui, escrever sobre mim, meu problema, contar minha história.
Eu tenho um grande problema na minha vida, eu sempre me abro muito, sempre conto tudo o que passa na minha cabeça e sei que isso me prejudica e muito, hoje eu fui dizer para minha namorada que eu muitas vezes pensei em largá-la, mas... acho que as vezes que pensei isso, foi por estar em crise, impulsivo, enfim...
Ai ai, não tou bem, estou inseguro, confuso, não sei o que fazer. As pessoas dizem que querem ter alguém e quando têem não querem mais, eu não consigo entender isso, quando as pessoas estão felizes elas dizem que querem um tempo sozinhas... o que eu faço ?
Esfrio ?
Ignoro ?
Esqueço ?
Deixo como está ?
Aiiiii minha vontade agora é de sumir, há muito tempo eu não tinha vontade de me machucar e hoje, aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii como quero me arranhar, me cortar, me destruir, às vezes tenho certeza que estou forte para as coisas, mas nossa, como sou frágil, e essa fragilidade me machuca. Mas tem momentos que estou forte e nada me abala !!!
Vcs tem noção de como é difícil conviver com isso ?
Uma hora eu quero algo e de repente não quero mais, e em seguida quero de novo... Tá bom eu sei que deixo todo mundo confuso, eu fico mais ainda, mas não quero que me tratem como coitado, como se eu fosse quebrar, eu aguento as coisas, mas demoro às vezes para digerir, e tem vezes que na hora a "coisa" já é bem processada na minha cabeça...
Enfim, eu sei que disse ontem que ia contar minha história desde o início, mas precisava desabafar.
Desculpem...

Espero que amanhã eu esteja melhor.

Beijinhos.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A auto-mutilação...



Pois é gente... infelizmente passei por isso e várias vezes !!!


Agora vcs me perguntam, o que me levou a fazer isso ?
Sinceramente não sei, muitos dizem que é para suprir uma dor que está tão forte que não conseguimos tirar e "transferimos" para outro lugar, então nossa atenção se volta para essa nova dor.
Às vezes eu tinha tanto ódio de mim que minha vontade era de me destruir, e quando eu me cortava, eu me sentia aliviado, me sentia mais calmo, mas muitas vezes eu nem percebia, eu não sentia dor alguma, mas depois... ahhh como eu sofria, ardia, doia, é muito difícil descrever.
Eu lembro de um dia, esse foi o pior, eu tava mal, angustiado e de repente eu fui na cosinha peguei a faca mais afiada e fiquei olhando prá ela e do nada uma fúria tomou conta de mim e comei a dar facadas no meu braço, eu precisava ver o sangue, e quanto mais eu sangrava, mais minha raiva aumentava, o meu ódio de mim, o meu ódio do mundo, eu me sentindo rejeitado, principalmente por mim mesmo.
Depois eu fui no banheiro para tomar banho e quando ví eu estava sentado no vaso com a perna para cima e fiz um corte enorme na minha perna, o sangue jorrava e eu ia ficando cada vez mais desesperado e ao mesmo tempo mais aliviado, então comecei e me "unhar" todo, me arranhar até tirar sangue, parece que eu estava completamente fora de mim, aliás eu estava, uma pessoa dentro de si jamais faria isso.
Então, num momento de lucidez eu peguei o telefone e liguei prá minha mãe, pedindo para ela vir prá minha casa que eu estava todo sangrando, que eu havia me machucado e muito, que eu tinha me cortado todo.
Ela ficou desesperada e falou para eu esperar que ela já estava indo, e nossa como aqueles minutos duraram eternidade, nossa e a dor ia aumentando, e quando mais dor eu sentia, mais raiva de mim eu sentia e comecei a me bater, eu gritava, urrava, eu queria morrer, queria pular a janela da sala, mas eu não conseguia sair do chão.
Quando minha mãe chegou eu não reconheci ela, comecei a gritar, dizendo que estavam invadindo a minha casa, eu não deixava ninguém se aproximar de mim, meu pai veio tentar me segurar e eu batia nele e me batia, eu estava completamente fora de controle.
Eles chamaram o SAMU, que veio muito rápido, pelo menos eu acho, não lembro de muita coisa. Os paramédicos chegaram e me levaram pro hospital, chegando lá eu já estava mais calmo, como se nada tivesse acontecido, estava sereno, tranqüilo e sentindo muita dor.
Me deram pontos, me atenderam rapidamente, eles queriam me deixar internado, de observação, mas eu implorei prá minha mãe deixar eu ir embora, para ela ficar comigo na minha casa, eu estava bem, pelo menos eu achava que estava...
O maior problema dessa doença, são os altos e baixos repentinos (mas isso eu entro em detalhes numa próxima vez que eu postar, já estou ficando com sono e preciso terminar esse relato).
Voltando ao assunto, quando eu estava no carro, veio uma coisa em mim, uma vontade de morrer muito forte, então abri a porta do carro e tentei me jogar do carro em movimento, minha mãe quase caiu do carro junto comigo, mas ela conseguiu me segurar.
Eu nunca falei dessas coisas com ninguém, vocês não sabem o quando é difícil, parece que estou revivendo tudo.
Hoje estou sentindo uma enorme dor...

Mas graças a Deus já tem uns 6 meses que eu não me corto e nem me arranho.
Estou com muito sono, amanhã escrevo mais.
Quero contar minha história desde o início, para depois chegar nos dias de hoje, na fase em que Graças a Deus, à minha família e ao meu amor eu estou controlado e vivendo uma vida quase normal de novo.

Beijos.


Mais um pouco sobre a doença...

Borderline é um transtorno de personalidade que traz sérias conseqüências para a pessoa, seus familiares e seus amigos próximos. O termo "fronteiriço" se refere ao limite entre um estado normal e um quase psicótico, assim como às instabilidades de humor.
Não é muito freqüente. Nos USA se considera 2% da população, (mas cuidado, geralmente as estatísticas lá são exageradas). Muito mais freqüente em mulheres do que em homens (por isso a página é escrita no feminino).
1) Sintomas (claro que nem todas as Borderline tem todos estes sintomas):
  • Medo de abandono: uma necessidade constante, agoniante de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio.
  • Dificuldade de administrar emoções
  • Impulsividade.
  • Instabilidade de humor. As oscilações de humor do DAB ou TAB - Distúrbio ou Transtorno Afetivo Bipolar duram semanas ou meses, mas as Borderline têm oscilações de minutos, horas, dias. Essas oscilações de humor incluem depressões, ataques de ansiedade, irritabilidade, ciúme patológico, hetero- e auto-agressividade. Uma paciente marca a consulta informando que está super deprimida, querendo morrer. No dia seguinte chega à consulta bem humorada, bem vestida, maquiada, vaidosa.
  • Comportamento auto-destrutivo (se machucar, se cortar, se queimar). As portadoras de Borderline dizem que se machucam para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor. Ou porque a dor no corpo "é melhor que a dor na alma".
  • Tentativas de suicídio, mais freqüentemente as de impulso do que as planejadas.
  • Mudanças de planos profissionais, de círculos de amizade.
  • Problemas de auto-estima. Borderlines se sentem desvalorizadas, incompreendidas, vazias. Não tem uma visão muito objetiva de si mesmos.
  • Muito impulsivas: idealizam pessoas recém conhecidas, se apaixonam e desapaixonam de maneira fulminante.
  • Desenvolvem admiração e desencanto por alguém muito rapidamente. Criam situações idealizadas sem que o parceiro objeto do afeto muitas vezes nem tenha idéia de que o relacionamento era tão profundo assim...
  • Alta sensibilidade a qualquer sensação de rejeição. Pequenas rejeições provocam grandes tempestades emocionais. Uma pequena viagem de negócios do namorado ou marido pode desencadear uma tempestade emocional completamente desproporcional (acusações de rejeição, de abandono, de não se preocupar com as necessidades dela, de egoísmo, traição, etc.).
  • A mistura de idealização por alguém e a extrema sensibilidade às pequenas rejeições que fazem parte de qualquer relacionamento são a receita ideal para relacionamentos conturbados e instáveis, para rompimentos e estabelecimento imediato de novos relacionamentos com as mesmas idealizações.
  • Menos freqüente: episódios psicóticos (se sentirem observadas, perseguidas, assediadas, comentadas).
2) Risco aumentado para:
  • Compras Compulsivas.
  • Sexo de risco.
  • Comer Compulsivo, Bulimia, Anorexia.
  • Depressão.
  • Distúrbios de Ansiedade.
  • Abuso de substâncias.
  • Transtorno Afetivo Bipolar.
  • Outros Transtornos de Personalidade.
  • Violência (não só sexual), abusos e abandono, por causa da impulsividade e da falta de crítica para escolher novos parceiros.
3) A causa provável é uma combinação de:
  • Vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na infância, por exemplo abuso psicológico, sexual, negligência, terror psicológico ou físico, separação dos pais, orfandade.
  • Vulnerabilidade individual.
  • Stress ambiental que desencadeia o aparecimento do comportamento Borderline.
Cuidado com conclusões precipitadas do tipo "você foi abusada" ou "você foi aterrorizada".
4) Evolução:
  • Geralmente começa a se manifestar no final da adolescência e início da vida adulta.
  • Com o passar dos anos existe uma diminuição do número de internações hospitalares e de tentativas de suicídio.
  • Parece piada de mau gosto, mas é uma realidade estatística: a cada tentativa de suicídio que a Borderline sobrevive, diminui a chance de uma nova tentativa.
5) Fatores de bom prognóstico:
  • Bons relacionamentos familiares, sociais, afetivos, profissionais.
  • Participação em atividades comunitárias: igrejas, clubes, associações culturais, artísticas, etc.
  • Baixa ou ausente freqüência de auto-agressão.
  • Baixa ou ausente freqüência de tentativas de suicídio.
  • Ser casada.
  • Ter filhos.
  • Não ser promíscua.
6) Tratamento.
A integração de tratamentos medicamentosos mais psicoterápico trouxe grandes progressos no tratamento do Transtorno Borderline.
  • Medicação:
O tratamento medicamentoso inclui Estabilizadores de Humor (mesmo que não se trate de DAB) pois eles ajudam a conter a impulsividade e as oscilações de humor.
Antidepressivos e Tranqüilizantes não tem a mesma eficácia que teriam em casos de depressões ou ansiedades "puras" mas certamente tem sua utilidade em Borderline.

Embora a medicação seja muito importante, ela é ator coadjuvante. O ator principal no tratamento é a Psicoterapia.
  • Psicoterapia:
Não é uma terapia fácil. O que acontece "na vida real" acontece dentro do consultório: instabilidade, alternância de amor e ódio, idealização e desapontamento com o terapeuta, sedução, impulsividade, etc.
Isso quer dizer o seguinte: o tratamento exige paciência, persistência, disciplina e muito boa vontade.
Pacientes gratos hoje podem se mostrar ingratos amanhã.
Terapeutas que hoje são vistos como atenciosos e dedicados podem ser criticados e vistos como monstros amanhã.

Entendendo um pouco do que é Borderline...

TRANSTORNO BORDERLINE DE PERSONALIDADE
O estudo, a pesquisa e tratamento das pessoas diagnosticadas como portadoras do transtorno borderline de personalidade é um dos maiores desafios para os estudiosos de saúde mental.

O conceito de personalidade borderline é o resultado inevitável do esforço para definir um limite entre o funcionamento mental neurótico e psicótico.

A personalidade é a síntese de nossos comportamentos, cognições e emoções que faz de cada um de nós uma pessoa única. Estes atributos tendem a ser estáveis e permanentes, permitindo que nossos familiares, amigos e conhecidos possam prever como nós reagiremos a uma dada situação e permite a eles nos descrever para outras pessoas.

Embora nossa personalidade tenha esta característica de estabilidade e permanência, a ponto de nossa reação frente a determinadas situações possa ser previsível, a pessoa com uma personalidade saudável demonstra uma grande variedade de respostas às situações de vida e principalmente às situações estressantes. Um transtorno de personalidade ocorre quando uma pessoa não pode mostrar tal flexibilidade e adaptabilidade. A falta de adaptabilidade e o limitado repertório de respostas frente às situações comuns de vida, e principalmente daquelas mais estressantes, torna-se uma importante fonte de sofrimento para o indivíduo e para os que estão à sua volta.

Os transtornos de personalidade tornam-se reconhecíveis na adolescência ou, às vezes antes, e permanecem pela maior parte da vida adulta. São padrões inflexíveis, muito enraizados e de severidade suficiente para atrapalhar o funcionamento da pessoa e trazem muito sofrimento.
O diagnóstico de transtorno de personalidade pode indicar que o paciente tem um elevado risco de suicídio, afeta o curso e prognóstico de doenças co-existentes, destaca importantes fatores etiológicos, informa ao clínico acerca da evolução e prognóstico do paciente, indica áreas de importante disfunção nos papéis sociais, familiares e ocupacionais e ajuda o clínico na administração global do tratamento.

O instrumento diagnóstico mais usado atualmente pelos médicos é DSM-IV (Manual Estatístico e Diagnóstico editado pela Associação Psiquiátrica Norte-Americana), que estabelece alguns critérios: um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, auto-imagem e afetos, com acentuada impulsividade começando no início da vida adulta, e presente numa variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes ítens:

1 - esforços desesperados para evitar abandonos reais ou imaginários.

2 - um padrão de relações interpessoais instáveis e intensas caracterizadas pela alternância de extremos de idealização e desvalorização.

3 - perturbações de identidade: auto-imagem e sentido de self (sentido de ser a própria pessoa, contato com a interioridade) acentuadamente e persistentemente instáveis.

4 - impulsividade em pelo menos duas áreas que são potencialmente lesivas à pessoa (self): compras, sexo, abuso de substâncias, direção perigosa e exageros alimentares.

5 - comportamento suicida recorrente, com tentativas e ameaças ou comportamento auto-mutilantes.

6 - instabilidade afetiva devida à acentuada reatividade de humor (por exemplo, disforia episódica intensa, irritabilidade ou ansiedade usualmente durando poucas horas e só raramente mais que uns poucos dias).

7 - sentimentos de vazio crônicos.

8 - raiva inapropriada e intensa ou difícil de controlar (por exemplo, ataques freqüentes de mau humor, raiva constante, agressões físicas repetitivas).

9 - ideação paranóide passageira, relacionada ao estresse ou sintomas dissociativos severos.

Porém, mesmo com a clareza das condições para o diagnóstico do Transtorno Borderline de Personalidade, o diagnóstico pelo médico continua sendo uma questão muito complexa, e deve ser feito por profissionais que tenham um sólido conhecimento dos transtornos de personalidade, um método sistemático de avaliação e muita experiência em lidar com pacientes com estes transtornos.

É importante notar que o diagnóstico de TBP é feito pela presença de uma coleção de traços e não por um critério isolado. No entanto, merece ser destacado no diagnóstico o esforço desesperado que o portador do transtorno faz para evitar o abandono real ou imaginário e a gravidade das alterações das relações interpessoais, seja na família, escola, trabalho e lazer e, posteriormente, estas perturbações aparecem também com os profissionais que se aproximam para oferecer tratamentos.

Mesmo com todos os progressos no conhecimento do TBP o diagnóstico continua sendo mais arte do que ciência.


O quadro clínico típico do TBP é de uma pessoa com graves alterações em várias áreas do seu funcionamento:

• escolaridade interrompida, sem uma carreira profissional definida. Os objetivos mudam rapidamente e nada é levado adiante. São pessoas que estão muito defasadas com os pares que não tiveram interrupções nas suas metas.

• Relações interpessoais muito perturbadas dentro da família e fora dela. Brigas constantes e agressões físicas não são raras. Qualquer atrito com um chefe ou supervisor adquire uma proporção muito grande, levando o abandono do trabalho. A relação com professores é complicada e tumultuada, dificultando o prosseguimento de estudos. As relações de amizade são quase inexistentes.

• É freqüente o envolvimento com bebidas alcoólicas e outras drogas, o que às vezes, leva a extremos de violências e envolvimento em atividades ilegais. A droga é um grande complicador para quem já tem um funcionamento bastante precário.

• Histórico de tentativas de suicídio e ameaças constantes em relação a esta possibilidade. Algumas são tentativas sérias e outras são apenas para manipular e controlar o meio.

• Condutas auto-mutilantes como cortes e queimaduras.

• Variação muito grande no humor, com freqüentes ataques de fúria, que em geral, são de curta duração.

• Condutas manipulativas - os portadores de TBP estão sempre negociando com as pessoas à sua volta, não para obter vantagens ou tirar proveito dos outros, mas para tentar uma afirmação de si próprios. Eles parecem estar sempre perguntando quem está no controle da definição desta situação, e da realidade.

Como ficam extremamente fixados nesta questão do exercício de controle, de poder e competência há uma grande perda para as relações inter-pessoais e a conquista de realizações pessoais e materiais.

Em resumo, são pessoas que tem seus familiares e pessoas próximas aterrorizadas por suas condutas agressivas, sua imprevisibilidade, suas rápidas mudanças, seus ataques de ira, suas ameaças de suicídio, de auto- mutilação e provocação de acidentes. Tudo isto se alterna com momentos onde a pessoa é afável e carinhosa.

Raramente a pessoa tem um funcionamento mental psicótico. Isto ocorre, em geral, em momentos de grande estresse e tem curta duração.

Tipicamente, o portador do TBP tem um discurso coerente, fala coisas com lógica e adequação, não está desorientado e quando a família relata a estranhos os problemas que estão enfrentando com a pessoa acometida, as pessoas às vezes duvidam do que ouviram relatar.

O início das manifestações do TBP ocorre na adolescência ou início da vida adulta (raramente antes). É um início tumultuado, explosivo, com grandes manifestações de cóleras e condutas muito agressivas, comportamentos perturbadores e destrutivos, ameaças de agressões, de suicídio e auto-mutilação. São freqüentes as agressões verbais e físicas a familiares e pessoas próximas. Podem ocorrer fugas e envolvimento com drogas, furtos em casa e fora dela. Ocorrem alterações alimentares (anorexia ou bulimia), contatos sexuais promíscuos e inúmeros outros comportamentos marcados pela impulsividade. Os cinco primeiros anos são, em geral, os mais complicados.

Freqüentemente há a necessidade de internação.

Os conhecimentos mais recentes mostram que mesmo com toda a conturbação e sofrimento que o portador do TBP causa a si próprio e a seus familiares o curso do transtorno não é tão negativo como se pensava antes. Hoje sabemos que o risco maior de completar o suicídio no TBP é nos 5/7 anos do início da manifestação. Depois disto o risco cai muito. Sabemos também que 10% das pessoas com TBP completam o suicídio.

As pesquisas recentes mostram que possivelmente metade das pessoas que tiveram o diagnóstico de TBP estarão funcionando normalmente na 4º década de suas vidas. Tudo isto tem uma boa repercussão ao manter a esperança nos médicos, nos pacientes e nos familiares.


Em relação às causas devemos ressaltar que:

1 - Os fatores genéticos desempenham um papel importante. O TBP é cinco vezes mais freqüente em pessoas que tem um parente de 1º grau com o transtorno.

2 - O impacto do ambiente familiar no desenvolvimento da criança é muito grande e um fator causal importante. Cerca de 80% dos pacientes com TBP vêm o casamento de seus pais como sendo de natureza conflitual. Muitos pacientes com TBP passaram por abusos físicos e sexuais dentro de suas famílias. No entanto, há pacientes com TBP que tiveram familiares absolutamente comuns, sem nada de anormal.

3 - Fatores sociais mais amplos tais como mudanças sociais rápidas que interferem na transmissão inter-gerações de valores tem um papel causal.

4 - Fatores psicológicos e constitucionais. A teoria mais conhecida e aceita é a de Kernberg que sugere que a patologia básica no TBP é o excesso de agressividade, conseqüência de um problema constitucional que faz com que a criança reaja em excesso às frustrações parentais habituais ou de uma quantidade excessiva de frustração precoce que traz uma agressividade excessiva como reação a estas frustrações. Isto leva a criança a ver-se como uma pessoa potencialmente perigosa e assassina e que vive em um mundo muito hostil e perigoso.

5 - Estudos recentes mostram a importância de um cérebro intacto na formação e manutenção de uma personalidade normal. Os testes de funcionamento do sistema frontal (lado frontal do cérebro) no TBP parecem mostrar déficits como impulsividade, inflexibilidade cognitiva, pouco auto-monitoramento e dificuldades no processamento de informações. Estes déficits podem contribuir para as dificuldades comportamentais, interpessoais e emocionais exibidos por pacientes com TBP e ter um impacto significativo nos esforços terapêuticos.